O grande abismo sufocante que nos aprisiona parece querer nos destruir. Nossos olhares perdidos denunciam nosso sentimento, nosso corpo pede contato enquanto o mundo perfeito nos repele violentamente. Sinto uma sensação mortal de beijar seus lábios, mas a barreira ilusória do proibido quebra o desejo puro e sincero do nosso estranho amor. Você me revela que eu posso ser feliz e livre mesmo dentro dessa contradição fictícia, me abraça e me acalma mesmo que por alguns segundos raros de liberdade que conseguimos roubar da vida real, brutal e desigual. Diante desse caos íntimo, minhas mãos trêmulas não sabem se tocam o seu rosto ou se simplesmente acenam de maneira fria e criptografada para que ninguém perceba o nosso terrível erro de sermos assim. Nos julgam culpados de um crime incompreensível de se ter, nos condenam ao desprezo corrosivo da indiferença e da solidão. Caminhamos lado a lado nas ruas da cidade como se fôssemos estranhos entre si, nossos passos programados não permitem que a distância padrão da afetividade seja rompida. Estou cansado dessa alucinação doentia que nos degrada. Quero te sentir na mais completa totalidade do amor incondicional. Quero abrir a minha anatomia emocional sedenta de liberdade e explodir todo o meu furor diante da cegueira hipócrita e repulsiva da gloriosa (im)perfeição humana...
( para J. )
pablo alencar
"Eu escrevo como se fosse para salvar a vida de alguém. Provavelmente a minha própria vida."(C. L.)
sábado, 25 de abril de 2009
quarta-feira, 22 de abril de 2009
Alguma força me reconduziu...
Alguma força me reconduziu a esse cubículo de letras e pensamentos. Resisti por semanas a colocar meus devaneios e pequenas insanidades guardadas nesse depósito que mais tende a um verdadeiro porão de loucuras, pois no porão se joga aquilo que nos parece momentaneamente inútil, mas que bruscamente se fazem necessários diante de urgências. Temos medo de descer ao porão, de sucumbir ao esquecido, ao desprezado, ao que nos parece delicadamente assustador. Mas estou eu retornando a esse ciclo que me parecia sepultado por minha fraqueza em escrever a mim. Será que tudo ao qual me dediquei supostamente fugiram do meu controle? Me roubaram algo inspirador? Não. Simplesmente meus inimigos se dissolveram na minha ingênua alegria, meus conflitos continuam vivos e dedicados a mim, porém se fazem agora confundidos com meus súbitos choques de felicidade e amor. Estou feliz por mim que vive esses momentos doces e leves, mas estou triste por você que escreve essas fragmentações da alma tão banais e desnecessárias a um espírito tão frágil como o nosso. Eu e você, realidade e ilusão, se compõem num único ser, mas separados pela divisória entre a complexa sensação de prazer e alegria e a melancólica arte de se fazer infeliz. Retornei. Sobreviverei. Amarei. Jamais te abandonarei...
pablo alencar
pablo alencar
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