O grande abismo sufocante que nos aprisiona parece querer nos destruir. Nossos olhares perdidos denunciam nosso sentimento, nosso corpo pede contato enquanto o mundo perfeito nos repele violentamente. Sinto uma sensação mortal de beijar seus lábios, mas a barreira ilusória do proibido quebra o desejo puro e sincero do nosso estranho amor. Você me revela que eu posso ser feliz e livre mesmo dentro dessa contradição fictícia, me abraça e me acalma mesmo que por alguns segundos raros de liberdade que conseguimos roubar da vida real, brutal e desigual. Diante desse caos íntimo, minhas mãos trêmulas não sabem se tocam o seu rosto ou se simplesmente acenam de maneira fria e criptografada para que ninguém perceba o nosso terrível erro de sermos assim. Nos julgam culpados de um crime incompreensível de se ter, nos condenam ao desprezo corrosivo da indiferença e da solidão. Caminhamos lado a lado nas ruas da cidade como se fôssemos estranhos entre si, nossos passos programados não permitem que a distância padrão da afetividade seja rompida. Estou cansado dessa alucinação doentia que nos degrada. Quero te sentir na mais completa totalidade do amor incondicional. Quero abrir a minha anatomia emocional sedenta de liberdade e explodir todo o meu furor diante da cegueira hipócrita e repulsiva da gloriosa (im)perfeição humana...
( para J. )
pablo alencar
Tem um quê de fisioterapia na questão anatômica do corpo...rs...e a maneira como se expressa indica enorme repressão social, com termos como o "mundo perfeito"... Não existiriam regras sem exceções e acima de tudo, o ideal de mundo perfeito é utópico. O conceito de realidade é insubstancial, pois tudo faz parte de sensações representativas de algo que já vivemos..como confirmar, se apenas 20% do que vemos é transmitido ao cérebro? O efeito sinestésico da cegueira é proporcionado por seu ver da sociedade e dos costumes, principalmente da cultura. Elementos que fazem parte da construção social não podem ser separados dela.. Pense nisso
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