"Eu escrevo como se fosse para salvar a vida de alguém. Provavelmente a minha própria vida."(C. L.)

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Queria me despir...

Queria me despir dessa embalagem embriagada de artificialidades e mergulhar com coragem dentro da minha consciência e extrair as minhas possíveis verdades de vida. Algo me sussurra que meu corpo rejeita essa caricatura implacável que realmente só existe no limiar do meu desespero. É cansativo suportar uma arquitetura externa de rotulações e definições. Eu não sou o que se exterioriza para o universo dos outros, eu sou aquilo que se define quando se consegue ultrapassar a estrutura virtual e entrar dentro do meu círculo pessoal, quando se aprofundam em mim é que se pode saber o que eu sinto de fato, o que eu necessito de todos e o que necessitam de mim para se construir uma intrincada relação. Não sou difícil de ser desfragmentado, basta apenas a sensibilidade viva do contato desmistificado. A desmistificação é o segredo maior para a afinidade, a quebra de obstáculos imaginários permite a construção da real amizade. A minha fragilidade inerente facilmente permitirá a entrada de estranhos dentro do meu habitat desabitado por mim. Não sou nenhuma fortaleza petrificada de empecilhos, sou o que há de mais penetrável e mastigável no terreno da absorção sentimental. Sou simples de se ter, basta apenas a complexidade de querer me compreender...

pablo alencar

sexta-feira, 15 de maio de 2009

O avesso de nós...

O avesso de nós luta para se desviar das incongruências amorosas. A guerra pela sobrevivência dos sentimentos reais diante da minúscula e agressiva incompatibilidade de seres. Somos dois pássaros perdidos diante do céu grandioso da vida: um em busca do vôo mais poderoso e ambicioso que se possa ter; o outro à procura do ninho mais seguro e consolador onde alguém possa lhe abrigar. A explosão de desejo sentimental é interrompida pela simples limitação de palavras. Falta-nos o substrato comunicativo para se firmar a solidez da paixão gestual. Acusações imaturas são desferidas ao som da música ambiente. Somos incapazes de aceitar o que o outro traz de particular dentro de si. O silêncio molda os nossos momentos de dedicação recíproca e dita as regras das silabas potencialmente reservadas ao nosso mundo externo. Estranhamente nos amamos com o que nos resta de abstrato e prático: beijos e abraços revestidos de afetividade e despidos de contextualidade. O fio que nos une beira ao rompimento instantâneo e cruel, a não ser por um pequeno elemento que esquecemos de remeter: nossa afinidade intima, nossa ligação emotiva que teima em se fazer predadora das nossas voláteis diferenças. Será o amor capaz de transpassar as grades do nosso planeta individual e tocar a face sensível da compreensão? Só o nosso avesso pode nos justificar...

( para J. )

pablo alencar

sábado, 2 de maio de 2009

A estranheza se revelou...

A estranheza se revelou. Sensações vazias de vida caíram sobre mim. Nessa noite deserta de sentimentos a chuva aniquilou a possibilidade de escape. Talvez o clima tenha lá suas místicas fantasias ou apenas eu quisesse que essas águas mortas participassem do meu jogo de solidão e imobilização. Nesses momentos loucos de hibernação íntima tudo que eu desejo é poder afundar esses pensamentos congelantes que só me conduzem a mais paralisação. Por que me desviei de todos e preferi estar com o meu onipresente inimigo interno? Preferiria que ele sucumbisse junto com a minha estupidez em querer invocá-lo. Nesses segundos noturnos de isolamento sinto a sua falta, queria estar canalizando meu universo particular para a nossa relação afetiva. Se me deixarem solto na imensidão da noite acabo por me perder dentro dessa esfera impulsiva de me dissecar internamente. Sou estranho, tenho consciência dessa minha indefinição de vida. Mesmo com todos os elementos de alegria e amor que tenho desfrutado ao lado de meus amigos e de minha relação amorosa ainda tendo a desesperar-me com a inutilidade de emergir a suposta revelação do vazio intrínseco ao ser. Coisas de um desocupado alucinante buscando cavar buracos intermináveis da sensibilidade humana. Estou a partir. Terminarei minha madrugada insólita assim como a iniciei: na lucidez inconstante da minha descartável loucura...

pablo alencar