"Eu escrevo como se fosse para salvar a vida de alguém. Provavelmente a minha própria vida."(C. L.)

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Falsamente...

Falsamente eu não minto. Digo sempre a verdade hipócrita aos sábios pseudológicos. Vou criando dentro do vazio um recheio de fantasia. Vou fazendo a festa aqui mesmo no porão. Cá estão dentro de mim o sim, o não e o senão. Se não fossem istos eu não teria sido aquilos. A comédia que me tira lágrimas é aquela feita com o coração. Brinco sempre de adulto porque a criança guardada em mim está ocupada com os sonhos. Sonho mesmo que não chegue no fim do arco-íris, pois sei que no meio dele há muita esperança para alimentar. Vou caindo no mesmo buraco, mas estranhamente o buraco vai caindo sobre mim. Aí nós dois ficamos equivalentes, eu e o buraco. E então deixo todas essas imaginações psique de lado e vou tratar é de dormir. Dormir também é viajar...


pablo braz

Ainda não consegui...

Ainda não consegui achar aquele ponto crucial onde as minhas palavras se existem como livres. Toda essa minha escritura anda presa ao intrincado, ao mais enrolado dos rolos de papel. Destrinchar essa escrita pesada é tarefa difícil. Aguardo o dia em que vou poder respirar aliviado enquanto escrevo. E esperando sentado o momento dessa magia textual, vou engolindo os sapos prolixos do contra-objetivo, da contra--fluidez, da contra-clareza. Oh Senhor! Liberte-me dos adjetivismos cruéis! Dai-me os substantivos para eu devorar! Perdoa todos os meus pecados pleonásticos e redundantes! Abaixo ao edema literário!!!...

pablo braz

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Eu poderia buscar...

Eu poderia buscar em dicionários longiquos palavras corretas para te nomear. São tantos adjetivos soltos que caberiam perfeitamente em seu retrato que fica difícil definir um. Mas existe um desses tantos que me faz te trazer até mim. Se eu pudesse te batizar te daria o nome de raridade. Essa simples palavra traduz plenamente com te percebo. És a raridade que eu preciso para me tornar legitimo, e essa equivalência do teu raro com o meu raro é que nasce esse amoraro, essa extinção sentimental que considero concreta. É incrível como tudo que povoa teu espírito exala esse aroma raro; tua dedicação a mim, tuas palavras contidas mas exatas de sentimento, teus olhos marcados de esperança a mim, teu abraço de conforto, são só alguns reforços que conduzem ao teu preciosismo. Cada movimento teu perante a mim é moldado na preocupação do estar bem com o outro, essa tua presença exponencial em minha cotidianidade me traz de volta algo tão raro quanto você: acreditar na ligação natural entre duas almas dispostas a se amar, crer que é possível encontrar uma conexão quase telepática entre dois sujeitos que entre si já se justificam. Essa raridade existe, e eu posso, sem hesitação, declarar...
(para F.)
pablo alencar

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

A maldição de sentir o abstrato...

A maldição de sentir o abstrato como sendo real também faz parte do meu ciclo diário. Já acordo imaginando seu cheiro nos lençóis como um tipo de impregnação que perfura meu olfato acostumado somente aos aromas de poeira e solidão. Solidão também tem cheiro, um cheiro fraco mas fatal. Vou ao espelho, pois preciso molhar a face com água fria para saber que existe vida além daqueles lençóis prisioneiros da verdade. No espelho penso em ti como sendo eu, penso em nossos rostos trocados por um momento e vejo que não há diferença alguma na mudança. Somos únicos e exclusivos dentro de nós. Somos como um brinquedo que desmontado resulta no mesmo brinquedo já arrumado. Preparo um café terrível, pois sou péssimo em cafés, e ele sai meio amargo e meio doce, meio forte e meio fraco, mas o que me importa é o efeito que ele me causa. O café provoca em mim o mesmo que você desperta: uma injeção de vitalidade e força, coragem e fé, para encarar um dia de incertezas e imperfeições. Seu amor e a cafeína são a equação exata para meu florescimento, são como duas chaves essenciais para abrir meu princípio de reconhecimento e vivacidade. A diferença cáustica entre você e o efeito adrenérgico da cafeína é que essa perde sua estimulação em poucas horas e se faz preciso outra dose de café para ressuscitar; já o efeito estimulante de seu principio ativo no meu organismo, a tal substância que deriva de você e se incorpora em mim, só tende a aumentar como uma escala exponencial que nunca culmina num ponto de tranqüilidade, nosso sentimento não se minimiza como uma xícara de café temporária e limitada. Somos o inexplorável e o interminável dentro da caixa de segredos chamada esperança...

pablo alencar

domingo, 24 de janeiro de 2010

Queria não sentir isso...

Queria não sentir isso. Isso de sentir o sentimento desse sentido, esse sentido todo que parece com o improvável, o indefinível, o etéreo senso de despedida. Há algo que sempre permanece quando isso vai embora, mesmo sabendo que há chance de retorno. Eu sinto isso como parte da minha quase-felicidade de ter estado contigo. Esse vazio construído depois da despedida se transmutou numa espera caótica do nosso improvável reencontro. Teus olhos infantis às vezes acusavam uma pequena instabilidade, mas procurei descartar qualquer hipótese de incerteza sua, e busco sempre tirar da dúvida o abraço preciso da esperança. A esperança, essa coisinha mágica que surge nas últimas horas do desespero, é que faz a roda da fantasia continuar. E eu não queria ter perdido nenhum pedaço dessa esperança que me é tão rara como a sensação de ter estado em sintonia aguda com alguém tão solto nos pensamentos. Espero seguir com a esperança junto da minha inconstância, uma equilibrando a outra para que não se cometa um derrame emocional no meu espírito, mesmo sabendo que é inevitável a qualquer momento que essa pulsão sentimental se exploda em um desejo perdido...

pablo alencar

sábado, 9 de janeiro de 2010

Sempre que necessário...

Sempre que necessário é bom se dissecar um pouco, ver cada nervo de verdade e cada músculo de interrogação que descansa sobre a nossa anatomia psicoalucinada. É quase toda de alucinação que formamos nosso auto- retrato. Por isso, esse mergulho dentro dessas viagens internas é fundamental para avaliar a tolice da qual adoramos praticar. Temos medo do cubo do reconhecimento pessoal, pois ele dói tanto que nos grudamos ao comodismo do sorriso fácil e descartável. Estou caindo de fato na realidade de que muita coisa em mim merece ser enlatada urgentemente, há lixo alegre e falso que deseja um bom depósito de vergonha e reciclagem. Os tempos de reciclagem podem demorar a surgir, mas quando se soltam vem com toda a velocidade de uma opinião sincera que quase sempre nos falta. Vou aproveitar esses segundos raros de onipotência emocional para liberar essas minhas sinceridades nuas. Nunca esqueçamos essa vontade impulsiva de tirar a roupa da ilusão e ficarmos nus diante do sexo selvagem do verdadeiro. Desculpem-me, mas agora estou indo. Há muitas peças para tirar fora. Há muita coisa para explorar no meu corpo descascado. Há pessoas me esperando para lhes revelar reticências que pulsam em mim. Aahh, essas reticências pulsantes!!!...

pablo alencar

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Resolvi passar...

Resolvi passar um momento de inércia emocional para com esse meu confessionário de soluços e dramas. Não que não tenha acontecido nada que alcançasse a força de ser sentida e exposta como um corte que lateja, mas apenas precisava do silêncio forjado para a reconstrução desse corte inútil. Por isso digo que nenhuma palavra sairá desse tempo de confusão que nasceu e morreu em mim durante esses últimos meses. A única coisa de fato que caracteriza essa turbulência seria o inexplicável, o indefinido, o sentido congelado. Vou ficar com o bruto silêncio do incompreendido e com a leveza do esquecimento que consegui crescer. Sigo agora limpo e tranqüilo depois que tomei a consciência necessária que me era útil para o meu fortalecimento e coragem. Era isso que me faltava demais: coragem. E com a coragem adquiri a força, e com a força consegui a construção, e com a construção criei a identidade. Com essa pude ver certos escuros que antes desconhecia. Acendi a luz e agora corro na direção do real. Podia definir toda essa parafernália prolixa que escrevi em uma só palavra: iluminação. O que eu precisava era somente de luz. Luz, luz, luz...

pablo alencar