Ficarei aqui guardado no meu quarto esperando a chuva se calar. Desejaria poder voar longe e destemido na direção contrária ao vento. Ter a sensação que sou livre e que posso chegar até onde você não me alcance. O som das gotas caindo me desespera por que sei que quanto mais elas se perpetuarem menos chances terei eu de desaparecer. Por que esse clima roubou de mim um dos raros momentos em que sou ar, em que saio da cápsula terra e viajo por horas na velocidade dos meus instantes fugazes? Esse meu quarto me observa desalentado como se soubesse que estou crescendo nele agora por que perdi o meu momento de escape. Adoro este veículo de duas rodas, aberto ao ambiente, simples e veloz. Preciso dessa velocidade ciclística para me deter. Me deter do tédio de não ter elaborado nada de divino nesse dia de inferno branco. Sempre tenho dias de inferno branco. É uma constante em meu ciclo cronológico. Porém, em alguns desses dias eu ainda consigo, no cair da noite, tocar algo de espiritual e compensar essa infernalidade. Mas hoje parece que não. Tudo indica que permanecerei fixo no meu congelamento imposto por essas malditas águas. Águas do equívoco que insistem em reter minha liberdade de deslizar entre pistas e pessoas. Nem ao menos pude vê-lo hoje. Terei que me acostumar também com certos egocentrismos dele, instantes particulares que correspondem unicamente a ele e não a nós. Infelizmente, hoje nem eu mesmo pude me perceber, quanto mais os outros. Nem mesmo eu pude me convidar a escapar...
pablo alencar
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