Eu queria mesmo era acordar em outro mundo. Dormir, dormir, dormir, e quando despertasse me sentir igual mas em um ar de diferença. Acordar e ver que não há mais sangue nos jornais e nem nos becos escuros. Acordar e perceber nenhum estômago mais se tortura por migalhas baratas. Acordar e olhar as pessoas com a cara limpa e peito aberto, sorrisos sinceros e comovidos. Acordar e saber que não vou competir pela minha vaga com os predadores ambiciosos. Acordar e desprezar aqueles alarmes odiosos de que é preciso levantar, trabalhar, estudar, ganhar, gastar e trabalhar mais um pouco. Acordar e receber aquele abraço de minha mãe que está a milhas distante daqui. Acordar e receber outro abraço de alguém que deveria estar na cama comigo. Acordar e ter a certeza de não preciso me camuflar daqueles que são os senhores da verdade e da moral, sentir não mais o medo e sim a liberdade borbulhando nas esquinas. Acordar e viver diante de um mundo que respira toda forma de amor, seja ela qual for, azul, verde ou rosa. Acordar e dizer: "agora posso ser". Mas, pelos meus cálculos sombrios, eu vou ter mesmo é que dormir, dormir, dormir e quem sabe, num dia perdido, eu resolva acordar...
pablo alencar
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