O avesso de nós luta para se desviar das incongruências amorosas. A guerra pela sobrevivência dos sentimentos reais diante da minúscula e agressiva incompatibilidade de seres. Somos dois pássaros perdidos diante do céu grandioso da vida: um em busca do vôo mais poderoso e ambicioso que se possa ter; o outro à procura do ninho mais seguro e consolador onde alguém possa lhe abrigar. A explosão de desejo sentimental é interrompida pela simples limitação de palavras. Falta-nos o substrato comunicativo para se firmar a solidez da paixão gestual. Acusações imaturas são desferidas ao som da música ambiente. Somos incapazes de aceitar o que o outro traz de particular dentro de si. O silêncio molda os nossos momentos de dedicação recíproca e dita as regras das silabas potencialmente reservadas ao nosso mundo externo. Estranhamente nos amamos com o que nos resta de abstrato e prático: beijos e abraços revestidos de afetividade e despidos de contextualidade. O fio que nos une beira ao rompimento instantâneo e cruel, a não ser por um pequeno elemento que esquecemos de remeter: nossa afinidade intima, nossa ligação emotiva que teima em se fazer predadora das nossas voláteis diferenças. Será o amor capaz de transpassar as grades do nosso planeta individual e tocar a face sensível da compreensão? Só o nosso avesso pode nos justificar...
( para J. )
pablo alencar
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