"Eu escrevo como se fosse para salvar a vida de alguém. Provavelmente a minha própria vida."(C. L.)

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Paralisei indesejavelmente...

Paralisei indesejavelmente aqui diante dessa tela viva e racional. Nada me surge na consciência nesse momento para jogar nessa válvula de escape. Na verdade não há falta de sentimentos ou emoções presentes em mim, existe sim justamente o oposto do vazio inspirador de escrever, existe a transbordância de intimidades que dariam para preencher qualquer lacuna solitária em um diário perdido no meio de um quarto de roupas sujas e livros velhos. Mas às vezes sinto uma dificuldade extrema de caminhar para fora desse quarto e vir até esse esconderijo aqui e eliminar dentro dele todos os meus vulcões internos. São tantos detalhes para explodir que simplesmente não consigo canalizar algo concreto que possa instantaneamente revelar. Venho vivendo emoções dignas de um coração verdadeiro e sanguíneo, os meus dias estão cada vez mais brutos de amor e desejo. Fiquei alguns minutos pensando do que escreveria hoje nesse meu quarto virtual de confissões. Podia falar de você e do nosso ciclo de amor intenso que faz meu peito quase transpassar a pele e sair desesperado ao seu encontro, querendo entrar no seu corpo e permanecer nele numa relação sem precedentes de parasitismo sentimental. Podia expulsar também as minhas alegrias em conseguir alcançar sonhos antes projetados no plano do papel branco e que agora sinto que realmente o que faço pode ser chamado de dignidade íntima. Ou desabafar sobre meus conflitos, dúvidas, decepções, mudanças, amigos, tragédias e até comédias. Ou outras infinitas concepções que agora me escapam da mente. Enfim, hoje preferi falar de nada, escolhi não mergulhar em nenhuma dessas minhas profundezas sensíveis de comoção humana. Acho que escrevi o máximo suportável para quem pretendia não se desestruturar intrinsicamente. Preciso ir urgente antes que a sensibilidade me toque com seu dedo invisível e onipotente...

pablo alencar

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Depois de vácuos intervalos...

depois de vácuos intervalos, talvez semanas sem me revelar internamente, retorno eu a me fragmentar. não sei o que de fato me forçou a essa abertura crítica de agora, não tenho aqui comigo, momentaneamente, nenhum motivo latente para fazer essas considerações de alma sentida. o que realmente sinto é algo que pretende ser alegria, ou melhor, é alegria mas crustada de outras nuances sentimentais. é alegria de perdição, de transbordo, de amor arterial, que teima em correr no meu peito singelo. estou feliz por certos motivos, talvez isso tenha ajudado ao meu isolamento a esse meu canto peculiar, esse espaço onde eu costumamente manifestava minhas fraquezas de espírito e pensamento. é como se esse lugar aqui fosse estranho a tudo que desviasse para a certeza, para a felicidade difícil, para as alegrias do meu subjetivismo. mas não. quero também jorrar luz nessa tela negra, quero provar a mim que possuo a ousadia de desmaracar os tormentos íntimos e revelar a sua face suave e bela. todos nós temos, abaixo da casca vermelha e horrenda da perturbação interior uma paisagem de sonhos brancos e deliciosamente sublimes. hoje escrevo não para a minha doce angústia, que a esse momento descansa intocada dentro do meu estômago mental, mas dedico estas letras ao meu cerne de emoção viva, ao meu cais de esperança e nascimento, ao meu fragmento mais devorado chamado amor...

pablo alencar

sábado, 18 de julho de 2009

É com lágrimas nos olhos...

É com lágrimas nos olhos que expulso essas palavras de sangue e solidão. Nessa noite infinita de revelações eu pude sentir o gosto do amor invertido, do amor espremido e sofrido como um corte em uma parte sensível da pele que sangra e lateja mesmo que se tente aliviar o incômodo. Eu percebi o quanto de fragilidade repousa em mim. Na verdade tudo que sinto sempre mergulha fundo no meu núcleo, sempre amo as pessoas como se elas também me quisessem como parte de sua vida. Essa madrugada parece não se extinguir, queria interromper meu choro amargo e voltar ao início da noite e não ter questionado seu estranhamento distante e partido. Devia ter deixado a ausência permanecer e talvez assim não tivesse agora descartando lágrimas de amor e medo. Tenho medo de não mais te sentir no meu espírito emocional, medo de deixar para trás uma verdadeira estrada de sentimentos dificilmente verdadeiros e eternos. Não consigo imaginar você sem pensar em mim ao seu lado, chorando e te beijando, amando e te respeitando. Aceito a sua liberdade explosiva e seu egocentrismo vital. Aceito por que te amo. Te amo e não vejo nada que possa me fazer desistir de você. Definitivamente nada. Nada me empurrará para o buraco do fracasso sentimental. Eu acredito no amor da diferença, no amor pulsante e louco de almas opostas, no amor entre O QUE NÃO HÁ e o que se eterniza em mim. Eu acredito em você. Eu acredito em nós. Sempre. Nada nos quebrará por que queremos ainda nos possuir incondicionalmente. Te amo...

pablo alencar

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Ficarei aqui guardado...

Ficarei aqui guardado no meu quarto esperando a chuva se calar. Desejaria poder voar longe e destemido na direção contrária ao vento. Ter a sensação que sou livre e que posso chegar até onde você não me alcance. O som das gotas caindo me desespera por que sei que quanto mais elas se perpetuarem menos chances terei eu de desaparecer. Por que esse clima roubou de mim um dos raros momentos em que sou ar, em que saio da cápsula terra e viajo por horas na velocidade dos meus instantes fugazes? Esse meu quarto me observa desalentado como se soubesse que estou crescendo nele agora por que perdi o meu momento de escape. Adoro este veículo de duas rodas, aberto ao ambiente, simples e veloz. Preciso dessa velocidade ciclística para me deter. Me deter do tédio de não ter elaborado nada de divino nesse dia de inferno branco. Sempre tenho dias de inferno branco. É uma constante em meu ciclo cronológico. Porém, em alguns desses dias eu ainda consigo, no cair da noite, tocar algo de espiritual e compensar essa infernalidade. Mas hoje parece que não. Tudo indica que permanecerei fixo no meu congelamento imposto por essas malditas águas. Águas do equívoco que insistem em reter minha liberdade de deslizar entre pistas e pessoas. Nem ao menos pude vê-lo hoje. Terei que me acostumar também com certos egocentrismos dele, instantes particulares que correspondem unicamente a ele e não a nós. Infelizmente, hoje nem eu mesmo pude me perceber, quanto mais os outros. Nem mesmo eu pude me convidar a escapar...

pablo alencar

terça-feira, 30 de junho de 2009

Começo a perceber...

Começo a perceber nossos desvios de uma outra perspectiva. Acabei sentindo que para mim isso não é realmente terrível, não há nada de maligno em nossa terceira parede. Pensamentos meus me conduzem a uma epifania singular: você é o que eu esperava desde antes, você é o propensor de algo que preciso, ou melhor, desejo ferozmente: me explodir, me desenterrar, me desequilibrar. Você é a fera que fará meu sonâmbulo despertar. Analisando as golpeadas que sofro ao seu combate, vejo que é necessário derramar sangue para te alimentar. A entrada sua em minha vida é perturbadora, mas é viva. Ao seu lado percebo o quanto necessito ser real, o quanto de energia impulsiva eu preciso. É isso, as suas diferenças são para mim um labirinto de libertação, seus gritos de alma são o despertador da minha paralisação. Agradeço a ti por me dar a possibilidade de saber o que é pulsante e atingível dentro desse meu mundo medíocre, dessa minha inércia medíocre, dessas minhas atitudes medíocres. Não quero mais essa fantasia banal que articulo, quero ser o ator do meu próprio espetáculo e você fará o papel de diretor nessa nova peça que desejo encenar. Te amo por você me cortar e me ferver, te amo por você me dissecar, te amo por você me dar os olhos nervosos que faltavam na minha patética calma imbecilmente cega...

pablo alencar

Entre sonhos e sentimentos...

Entre sonhos e sentimentos, eu simplesmente te amo. A cada hora ao seu lado eu perco a minha metade solidão e ressuscito a minha metade emoção. Meus olhos perdidos se encontram na sua confusão e sou levado ao mundo da loucura passional. Eu sei que seus sonhos podem estar inversamente moldados fora do espelho de nós, mas a imagem sua sempre será a mais bela entre as mais impossíveis. Não consigo imaginar meu corpo sem se alimentar das suas mãos, do seu desejo de me prender em suas posses. Ao te beijar eu caio em algo etéreo, é como se você me aniquilasse qualquer limite real e me fizesse descer ao seu lugar, ao seu sentido interno. Parece um pouco perdição esse sentimento, mas talvez seja realmente isso o que quero. Quero me perder em você e te encontrar em nós. Quero simplesmente me amar te amando...

( para J.)

pablo alencar

terça-feira, 16 de junho de 2009

Vinho e perfeição...

Vinho e perfeição, a contradição incomum que se dissolveu em mim. Naquela noite pude sentir o quanto esse líquido sensível me consumiu, me desarmou e me fez expulsar ebulições internas que estavam por se evaporar na minha inconsciência. A primeira taça foi terrivelmente amarga, a segunda foi levemente agressiva, mas a terceira foi excitante, delirante, envolvente. A partir daí, pude perceber a delicadeza dessa bebida doce e discreta, que me conduziu ao estado de flutuação insustentável. A sensação de leveza era de tal força que constatei que, por momentos, eu não estava lá, eu não mais existia naquele apartamento envolto por nuvens de fantasia. Naqueles segundos posteriores, a doçura do vinho se reverteu em um vinagre de angústias e pude experimentar o verdadeiro sabor desse líquido, o sabor da fraqueza emocional, da crueldade do monstro mental. Entre vômitos libertários e lágrimas irracionais, ele estava junto a mim, ouvindo meus delírios e incertezas. Ele estava observando toda a minha delicada estrutura íntima que se encontrava em estado de perfuração, ele viu diante dele alguém desabando em si. Mesmo assim, ele permaneceu comigo e me consertou por alguns instantes, ele limpou com paciência todo o meu lixo orgânico despejado no assoalho da sala e me envolveu com toda a leveza que o vinho não me proporcionou. Realmente, a “perfeição” nunca pode degustar uma gota sequer dessa suave e dissimulada delícia dos homens...

pablo alencar

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Foi incrivelmente mágico...

Foi incrivelmente mágico estar ao seu lado e sentir que eu e você se transfiguramos em nós. Nossa química sensitiva se dissolveu em beijos loucos e abraços protetores. Esses minutos que passamos a observar juntos o reflexo luminoso sobre o rio seco nos deixou a sensação de que somos realmente intrínsecos entre si. A noite foi se fazendo solitária enquanto nós rompíamos o seu silêncio com palavras soltas e flutuantes. Nos sentamos na grama e parecia que o mundo se limitava àquele momento único. Senti algo que não sei bem como expressar, um misto de paz e harmonia embalado com desejos energizantes de impulsividade. O amor tem dessas contraditórias impressões! Nos beijamos profundamente mas nossos olhares se desviavam para os outros, para o medo banal de sermos descobertos pela nossa aventura perigosa de se amar ocultamente. Entre segundos velozes nos deitamos na grama tomados por uma loucura infantil de brincadeiras. Hesitei por instantes aquela situação, achei preocupante me encontrar naquele modo, livre e solto. Tolice minha! Sou estúpido! Que se danem os outros!. Nossa hora chegou ao fim. Nos despedimos daquele local com a sensação de que fomos felizes naquela noite singular. Eu sei que voltaremos lá outro dia qualquer. Eu sei que aquele lugar nos espera desesperadamente. Eu sei... aahhh! Prefiro não saber...

pablo alencar

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Queria me despir...

Queria me despir dessa embalagem embriagada de artificialidades e mergulhar com coragem dentro da minha consciência e extrair as minhas possíveis verdades de vida. Algo me sussurra que meu corpo rejeita essa caricatura implacável que realmente só existe no limiar do meu desespero. É cansativo suportar uma arquitetura externa de rotulações e definições. Eu não sou o que se exterioriza para o universo dos outros, eu sou aquilo que se define quando se consegue ultrapassar a estrutura virtual e entrar dentro do meu círculo pessoal, quando se aprofundam em mim é que se pode saber o que eu sinto de fato, o que eu necessito de todos e o que necessitam de mim para se construir uma intrincada relação. Não sou difícil de ser desfragmentado, basta apenas a sensibilidade viva do contato desmistificado. A desmistificação é o segredo maior para a afinidade, a quebra de obstáculos imaginários permite a construção da real amizade. A minha fragilidade inerente facilmente permitirá a entrada de estranhos dentro do meu habitat desabitado por mim. Não sou nenhuma fortaleza petrificada de empecilhos, sou o que há de mais penetrável e mastigável no terreno da absorção sentimental. Sou simples de se ter, basta apenas a complexidade de querer me compreender...

pablo alencar

sexta-feira, 15 de maio de 2009

O avesso de nós...

O avesso de nós luta para se desviar das incongruências amorosas. A guerra pela sobrevivência dos sentimentos reais diante da minúscula e agressiva incompatibilidade de seres. Somos dois pássaros perdidos diante do céu grandioso da vida: um em busca do vôo mais poderoso e ambicioso que se possa ter; o outro à procura do ninho mais seguro e consolador onde alguém possa lhe abrigar. A explosão de desejo sentimental é interrompida pela simples limitação de palavras. Falta-nos o substrato comunicativo para se firmar a solidez da paixão gestual. Acusações imaturas são desferidas ao som da música ambiente. Somos incapazes de aceitar o que o outro traz de particular dentro de si. O silêncio molda os nossos momentos de dedicação recíproca e dita as regras das silabas potencialmente reservadas ao nosso mundo externo. Estranhamente nos amamos com o que nos resta de abstrato e prático: beijos e abraços revestidos de afetividade e despidos de contextualidade. O fio que nos une beira ao rompimento instantâneo e cruel, a não ser por um pequeno elemento que esquecemos de remeter: nossa afinidade intima, nossa ligação emotiva que teima em se fazer predadora das nossas voláteis diferenças. Será o amor capaz de transpassar as grades do nosso planeta individual e tocar a face sensível da compreensão? Só o nosso avesso pode nos justificar...

( para J. )

pablo alencar

sábado, 2 de maio de 2009

A estranheza se revelou...

A estranheza se revelou. Sensações vazias de vida caíram sobre mim. Nessa noite deserta de sentimentos a chuva aniquilou a possibilidade de escape. Talvez o clima tenha lá suas místicas fantasias ou apenas eu quisesse que essas águas mortas participassem do meu jogo de solidão e imobilização. Nesses momentos loucos de hibernação íntima tudo que eu desejo é poder afundar esses pensamentos congelantes que só me conduzem a mais paralisação. Por que me desviei de todos e preferi estar com o meu onipresente inimigo interno? Preferiria que ele sucumbisse junto com a minha estupidez em querer invocá-lo. Nesses segundos noturnos de isolamento sinto a sua falta, queria estar canalizando meu universo particular para a nossa relação afetiva. Se me deixarem solto na imensidão da noite acabo por me perder dentro dessa esfera impulsiva de me dissecar internamente. Sou estranho, tenho consciência dessa minha indefinição de vida. Mesmo com todos os elementos de alegria e amor que tenho desfrutado ao lado de meus amigos e de minha relação amorosa ainda tendo a desesperar-me com a inutilidade de emergir a suposta revelação do vazio intrínseco ao ser. Coisas de um desocupado alucinante buscando cavar buracos intermináveis da sensibilidade humana. Estou a partir. Terminarei minha madrugada insólita assim como a iniciei: na lucidez inconstante da minha descartável loucura...

pablo alencar

sábado, 25 de abril de 2009

O GRANDE ABISMO...

O grande abismo sufocante que nos aprisiona parece querer nos destruir. Nossos olhares perdidos denunciam nosso sentimento, nosso corpo pede contato enquanto o mundo perfeito nos repele violentamente. Sinto uma sensação mortal de beijar seus lábios, mas a barreira ilusória do proibido quebra o desejo puro e sincero do nosso estranho amor. Você me revela que eu posso ser feliz e livre mesmo dentro dessa contradição fictícia, me abraça e me acalma mesmo que por alguns segundos raros de liberdade que conseguimos roubar da vida real, brutal e desigual. Diante desse caos íntimo, minhas mãos trêmulas não sabem se tocam o seu rosto ou se simplesmente acenam de maneira fria e criptografada para que ninguém perceba o nosso terrível erro de sermos assim. Nos julgam culpados de um crime incompreensível de se ter, nos condenam ao desprezo corrosivo da indiferença e da solidão. Caminhamos lado a lado nas ruas da cidade como se fôssemos estranhos entre si, nossos passos programados não permitem que a distância padrão da afetividade seja rompida. Estou cansado dessa alucinação doentia que nos degrada. Quero te sentir na mais completa totalidade do amor incondicional. Quero abrir a minha anatomia emocional sedenta de liberdade e explodir todo o meu furor diante da cegueira hipócrita e repulsiva da gloriosa (im)perfeição humana...

( para J. )

pablo alencar

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Alguma força me reconduziu...

Alguma força me reconduziu a esse cubículo de letras e pensamentos. Resisti por semanas a colocar meus devaneios e pequenas insanidades guardadas nesse depósito que mais tende a um verdadeiro porão de loucuras, pois no porão se joga aquilo que nos parece momentaneamente inútil, mas que bruscamente se fazem necessários diante de urgências. Temos medo de descer ao porão, de sucumbir ao esquecido, ao desprezado, ao que nos parece delicadamente assustador. Mas estou eu retornando a esse ciclo que me parecia sepultado por minha fraqueza em escrever a mim. Será que tudo ao qual me dediquei supostamente fugiram do meu controle? Me roubaram algo inspirador? Não. Simplesmente meus inimigos se dissolveram na minha ingênua alegria, meus conflitos continuam vivos e dedicados a mim, porém se fazem agora confundidos com meus súbitos choques de felicidade e amor. Estou feliz por mim que vive esses momentos doces e leves, mas estou triste por você que escreve essas fragmentações da alma tão banais e desnecessárias a um espírito tão frágil como o nosso. Eu e você, realidade e ilusão, se compõem num único ser, mas separados pela divisória entre a complexa sensação de prazer e alegria e a melancólica arte de se fazer infeliz. Retornei. Sobreviverei. Amarei. Jamais te abandonarei...

pablo alencar

sábado, 10 de janeiro de 2009

somos imparalelos...

somos imparalelos. somos algo que não se dissolve,não se entrelaça. terra e ar,fogo e água,noite e dia. a mistura explosiva que desencandeia mesmo sem se unir. lutamos contra as nossas corrosivas diferenças pensando serem elas apenas um estágio de nossa evolução sentimental. erramos. queríamos quebrar a parede do egoísmo e sucumbir ao desejo comum. não conseguimos. a harmonia nos escapava,vivíamos em um completo desequilíbrio amoroso. você transbordava amor,eu expelia receio. você se julgava dono,eu me sentia estranho. você me alimentava,eu te descartava. estávamos em direções emocionalmente opostas,em sentidos sentimentalmente imiscíveis. nunca se encontraria qualquer ponto que nos centralizasse. o amor não resiste ao avesso extremo,ele exige um mínimo de unicidade,uma gota qualquer de reciprocidade. a nossa profunda incompatibilidade de alma,de pensamento,nos impossibilitou de seguirmos juntos. tivemos que nos desfazer de qualquer raiz parasitária que nos prendia um ao outro. estamos livres,porém perdidos. perdidos dentro do nosso organismo desestruturado,dos nossos sentimentos fragmentados,deixados pela batalha árdua de querermos amar o proibido, o invencível, o impenetrável...

pablo alencar

escrever é algo louco...

escrever é algo louco.parece uma tormenta de pensamentos conduzidos por um furacão de impulsos e desejos. às vezes penso:escrever para quê? ou melhor:por que? ou profundamente:para quem? não sei o que me conduz a colocar palavras soltas,muitas sem lógica ou razão,em um papel que se encontrava nulo.talvez esteja aí um motivo! o papel!!! o papel nulo!!! talvez não quisesse que permanecesse mais vazio,solitário,sem função alguma. o papel estava lá,esperando alguém desvirtuá-lo e tirar-lhe a pureza,a brancura,a paz,e o transformar num aglomerado de fragmentos estranhos a ele.talvez esteja aí um real motivo de escrever:um simples papel. muitos devem pensar que isso é algo absurdo e por demais digno de desprezo. outros acharão que estou em delírio insano ou que não estou saudável para com as minhas faculdades mentais. pois digo a você, leitor: não,não se trata de banalidade ou alucinação. se trata do simples fato de que não escreveríamos se não tivéssemos algo pronto para nos receber, algo virgem e intocável para podermos desconfigurá-lo. o papel em branco nos oferece tudo que precisamos: a ausência. é dessa ausência que se faz a presença, que se constrói a vida em palavras, que se desestrutura os sentimentos e se molda fragmentos. agradeço ao papel em branco,nulo ou vazio a chance de poder esboçar uns traços dos meus devaneios e perturbações...

pablo alencar

domingo, 4 de janeiro de 2009

a noite me fascina...

a noite me fascina. a escuridão que se faz viva me torna desnorteado.o mistério noturno se entrelaça ao meu pensamento solto e me envolve numa atmosfera de clímax. me deixo levar pela loucura que se desencadeia.quero mergulhar,sentir,voar,transbordar todos os extasiados segundos que a noite me oferece.ela me alimenta e me toma como seu.permito que ela me escravize.afinal é através dela que eu pulso.sinto energia quando a noite surge.sinto emoção ao vê-la se tornar deusa.deusa dos loucos,dos indefinidos,dos incontroláveis,dos solitários,dos ilimitados.amo-te noite,com toda a glória e a eternidade que tu me contemplas...

pablo alencar

estou preparado para o ...

estou preparado para o renascimento.já sinto a febre louca da mudança.preciso dessa nova injeção para continuar a seguir.preciso me desconfigurar dessa minha atual conjuntura plástica que me sufoca,me prende,me retrocede, e iniciar um novo ciclo de vida ao qual nunca realmente fiz parte. sempre estive em volta do ciclo,mas nunca pertenci a nenhum momento seu,nunca entrei na roda viva.fui durante todos esses tempos um periférico,que olha a vida sem nem sequer tocá-la, quanto mais penetrá-la. é estranho pensar que alguém com 20 e poucos anos nunca tenha tocado a vida. pois é,ela não é tão fácil assim de se captar.ela sopra como a um vento que não tem direção,ela se volatiliza como a um gás raro e inerte,ela se torna subterrânea nos mais profundos solos,ela mergulha na imensidão do ser humano.coitado de mim que tento agarrar esse algo tão ''insegurável''. mas agora quero senti-la pelo menos nas suas fronteiras,no seu limiar.quero tentar me aproximar dela,aos poucos,sorrateiro e cauteloso,atento e delicado.quero pelo menos tocá-la nos lábios,sentir sua pele,seu cheiro.depois,se ela permitir,quero possuí-la e tomá-la como minha. oh,vida,serás capaz de me dar um pouco de ti,uma pequena parte desse teu conjunto infinito e inimaginado?...

pablo alencar